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ROMANCES HISTÓRICOS X ROMANCES DE ÉPOCA, por Mariana Pacheco

  • Foto do escritor: alemackoficial
    alemackoficial
  • 7 de set. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 2 de out. de 2020



A literatura possui várias categorias para classificar as tantas (milhões) de obras escritas, para que o leitor tenha maior facilidade para escolher aquela que corresponde ao seu gênero de leitura favorito.

E entre essas categorias (ação, ficção, suspense, terror...) temos o Romance, e que muitas vezes é interpretado de forma equivocada. Esse gênero não se trata especificamente de histórias românticas, com casais apaixonados. Um romance é toda a obra de cunho narrativo, e que é caracterizado por conter uma minúcia descritiva e tratar de problemas sociais, portanto, sua nominação não é derivada de sentimentos dos personagens, mas sim da época em que teve surgimento, durante o Romantismo. Mesmo nas outras fases literárias, como realismo e na modernidade, a categoria se manteve, por conta das suas características únicas que o tornam o que é.

E dentro do romance, podemos encontrar subgêneros, tais como romances de cavalaria, romance policial, romance epistolar, etc, e o romance histórico, comumente confundido com o romance de época. Entretanto a diferença entre ambos e visível quando se busca ler um exemplar do gênero e entender suas construções narrativas.

O Romance de época – Romanceiro de uma sociedade

Os clássicos dos romances de época surgiram aproximadamente o que conhecemos como “Período Império” (séc XVIII até XIX), também conhecido como período Georgiano e Vitoriano (referentes aos reis Georges e rainha Vitória da Inglaterra), e retratam a sociedade de tal momento.

Em sua maioria, os romances de época são fictícios, e tem como intenção refletir a sociedade daquela época, em seus costumes, hábitos, eventos, moda, etiqueta, etc, em especial, a sociedade londrina e inglesa. Possui inicialmente um foco romântico (no sentido literal da palavra), mas se desenvolve em torno de problemas frutos desse relacionamento, até alcançarem o clímax. O final, normalmente, é com um desfecho feliz.

Um dos pontos marcantes do romance de época é o questionamento da posição feminina dentro da sociedade da época mencionada. A fragilidade, a independência, os casamentos por conveniência, relacionamentos extraconjugais, diferença entre classes sociais, valorização de títulos nobres são características presentes na vida das personagens femininas, que ocupam o papel principal. Também é válido mencionar que essas “mocinhas” também devem se combinar com um homem, que igualmente enfrenta tais pormenores da sua sociedade e posição. Os personagens masculinos são idealizados como inalcançáveis, mas fáceis de amaciar com a autenticidade da mulher apaixonada.

Apesar de possuírem uma estrutura com começo-meio-fim padrão, onde se tem a apresentação dos personagens, seu primeiro contato, um problema a ser solucionado, o clímax, e o desfecho, podendo ser chamado de clichê, e considerado uma leitura mais exclusiva ao público feminino (mesmo no passado quanto agora), ele traz um panorama de relações sociais de uma época (quando bem pesquisados e trabalhados pelo autor), e por ser de serventia para uma boa lição da personalidade humana.

Para começar, é importante ler os clássicos:

- Jane Austen – Orgulho e Preconceito

- Charlotte Brontë – Jane Eyre

- O Morro dos Ventos Uivantes – Emily Brontë

- Senhora – José de Alencar

- A Moreninha – Joaquim Manuel de Macedo

O romance de época contemporâneo tem voltado com força total nas livrarias, através de séries com volumes independentes, abordando casais que em determinado momento se encontram, mas seus relacionamentos serão abordados em outro livro. Isso expande a posição de personagens principais e secundários, quase extinguindo essas relações. Todos podem ser personagens principais, em seu momento.

Alguns contemporâneos:

- Julia Quinn – Série Família Bridgerton

- Lisa Kleypas – Série Os Hathaways

- Diana Gabaldon – Série Outlander

O Romance Histórico – Veracidade e Ficção

O romance histórico preza, em primeiro lugar, pela presença de fatores reais na composição da narrativa (guerras, revoluções, manifestações, etc), fundindo-os com a ficção desejada pelo autor, em concordância. O estilo surgiu em meados do século XIX na Escócia, mas não possui um período específico para ser retratado nessas obras, podendo abordar desde o período medieval até o século XX.

Um bom romance histórico deve prezar por uma pesquisa profunda do momento real em que os personagens fictícios serão inseridos, com o propósito de que aquele fato verídico seja o ponto de partida e ambientação da narrativa. É preciso buscar a legitimação do que é escrito, com documentos e referências confiáveis, além da tentativa de recuperar estruturas sociais, culturais, políticas e estilos do passado, e apresenta-los na narrativa.

Normalmente tal enredo usa de temas heroicos, com personagens de valores éticos e morais, além de objetivos nobres a serem alcançados. Eles pode ter relações com figuras históricas (que realmente existiram) ou protagonistas típicos, inventados, mas de acordo com os padrões da época. Existe uma hierarquia dos personagens neste gênero:


1- Personagens centrais, geradores de mudanças

2- Personagens médios, jovens, com aventuras pessoais acontecendo durante a trama

3- Grupos que formam um único herói coletivo, em sua união

4- Marginalizados, que se diferenciam dos demais por seus traços externos ou de personalidade

Não existe uma preferência estrutural quanto à narrativa. Também não pede relacionamentos românticos para alcançar os objetivos de seus personagens. Igualmente não tem obrigações de gênero a serem cumpridas, sendo que uma mulher ou um homem pode ocupar a posição central da trama. Apesar de parecer que pode dar mais liberdade ao autor em seu estilo de escrita, o romance histórico o atrela fortemente a cumprir com uma pesquisa bem elaborada para sua ficção não extravasar a realidade. Por exemplo, se vai falar de época medieval, não faz sentido batalhas com metralhadoras.

A dificuldade para o autor deste gênero também é manter a imparcialidade sobre o momento em que está narrando, tal como Aristóteles recomenda que um historiador o faça, sem colocar seu ponto de vista. Entretanto, alguns escritores pecam aqui, e expõe questões que não condizem com a época vivida por seus personagens, trazendo problemas atuais para um passado que a questão sequer era pensada.

Alguns autores que marcaram sua trajetória por se dedicarem ao gênero, e se tornaram clássicos:

- Alexandre Dumas – Os três Mosqueteiros

- Os Miseráveis – Victor Hugo

- As Minas de Prata – José de Alencar

- Guerra e Paz – Liev Tolstói

- Walter Scott – Ivanhoe

O romance histórico clássico ressalta os valores do passado, já os pós-modernos trazem a mais uma reflexão sobre essa mesmo exaltar, o que permite ao autor uma maior flexibilidade de interpretação dos fatos reais. Isso é, traz além da ficção e veracidade, também gera uma discursiva em cima daquela informação trazida para o leitor.

O acréscimo do romance histórico para o leitor é a permissão de compreender os acontecimentos, e suas motivações, e como podem ter influenciado em nossa vida atual, além de, claro, trazer uma história ficcional para nos prender emotivamente naquela narrativa. Constroem nossa criticidade e nos permitem uma viagem ao passado, sendo uma aula de História, com a combinação perfeita de conhecimento.

Alguns autores atuais do gênero:

- Bernard Cornwell – Waterloo

- O Nome da Rosa – Umberto Eco

- Svetlana Alexijevich – A Guerra Não tem Rosto de Mulher

- Eiji Yoshikawa - Musashi

- Ken Follet – Trilogia do Século

É válido dizer que, apesar da evolução literária, o romance de época ainda se estende ao sucesso de autores americanos e ingleses, escritos principalmente por mulheres, enquanto o romance histórico se permitiu expandir para outros países, e que autores de nacionalidade mais diversificadas contassem a história de seus países e também de outros países de acordo com a sua forma de olhar aquele período histórico.

Fontes:

 
 
 

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