AS BANDAS DESENHADAS FRANCO-BELGAS, por Mariana Pacheco
- alemackoficial
- 26 de abr. de 2021
- 4 min de leitura
A HQ como gênero literário
O gênero das Histórias em Quadrinhos possui uma comunicação própria, que o caracteriza como tal em sua formatação e leitura. Então, apesar de alguns não considerarem HQ como literatura, por ter sua própria estrutura linguística, ele faz parte do universo literário, e podem ser visto como uma forma de apresentar seus subgêneros para a sociedade, de forma que seja possível justifica-las dentro do grupo em que são lidas e inseridas.
A linguagem das HQs possui herança de outras formas de comunicação, como cinema, teatro e literatura, que influenciaram a construção do gênero, fundindo características destas outras artes e criando sua própria forma de se expressar para o leitor, com liberdade e autonomia, com recursos próprios verbais e visuais para construir as narrativas. Dentro do gênero HQ, podemos encontrar os subgêneros charges, cartuns, tiras e tiras seriadas, que podem ter tom de comédia, aventura e ação.
A cena narrativa ocorre em quadrinhos (por isso História em Quadrinhos), e a narração através dos balões de fala dos personagens. Além disso, as cores, feições, onomatopeias também desempenham papel essencial na condução da história e o tempo e espaço em que ela ocorre, além de definir o perfil dos personagens e permita que o leitor identifique o herói e vilão.
As HQs começaram a serem exploradas em dois polos diferentes no começo do século XX: Estados Unidos, com super-heróis e histórias de cowboys, e na Europa, em especial por Bélgica e França, com personagens mais humanos e com aventuras mais possíveis dentro da realidade. Iremos focar aqui nas HQs Franco Europeias, conhecidas Banda Desenhada, que foram pioneiras em, por exemplo, inserir os balões de fala.
Linha clara – A assinatura das bandas desenhadas
O estilo Linha Clara (Ligne Claire) tem ligação originária da França, Bélgica e Países Baixos. Os quadrinistas pioneiros do estilo foram o francês Alain Saint-Ogan e o Belga Hergé, conhecido por aprimorar a técnica e marcar uma geração dos quadrinistas europeus pelas próximas quatro décadas.
As características do estilo são:
- Quadrinhos de traços simplificados
- traços sem espessura ou graduação
- personagens e fundos com equilíbrio e clareza
- poucas sombras
- Cores chapadas
- Diálogos extensos e complexos
Hergé e Tintin
Tintin foi o começo do estilo Linha Clara criado por Hergé, e assim como o jovem repórter, o estilo se tornou uma marca registrada das HQs europeias, com suas características próprias que as diferenciam das norte-americanas.
As aventuras do jovem repórter começaram a ser publicadas como tiras seriadas no jornal, Le Petit Vingtième, com a história “Tintin no país dos Sovietes”, em 1929. A narrativa fez tanto sucesso, que Hergé deu continuidade, e posteriormente reuniu a obra em álbuns. Atualmente são 24 álbuns principais que contam as aventuras de Tintin e seu cãozinho Milou.
Um aspecto interessante sobre Tintin é que o material destinado ao publico infantil, originalmente, aborda temáticas ousadas, como colonização, tráfico de drogas, interesses comerciais, sociedades secretas, ditaduras, etc. Tal abordagem comprova que HQs não são um gênero totalmente dedicado às crianças, mas também aos adultos, ao trazer uma reflexão e representação de uma sociedade e de uma época.

Asterix e Obelix de Albert Uderzo e René Goscinny
A série é a mais popular na França, e continua se inovando e trazendo novas histórias para seus leitores desde sua criação em 1959, com mais de 350 milhões de exemplares vendidos.
As histórias são, não apenas uma viagem cultural ao mundo dos gauleses de forma bem humorada ao estilo pastelão, como também conta com elementos históricos, tal como Cleópatra, Romanos, Bretões, etc, apresentados com sutileza nos diálogos e no visual dos álbuns que também apresenta um pouco da cultura franco-belga.
Seus quadrinistas são muito aclamados na França, e também possuem outros trabalhos. A predileção no estilo de ambos e a caricatura de personagens reais inseridos no universo das HQs. Goscinny escreveu 24 aventuras de Asterix até sua morte, e Uderzo produziu mais dez álbuns, até 2015, quando o quadrinista Jean-Yves Ferri assumiu o cuidado das produções. No total, Asterix e Obelix contam com 36 álbuns principais em sua série.
Apesar de possuir mais identificação com o público europeu por sua linguagem (além da França e Bélgica, Portugal também é um bom público do subgênero), também fez sucesso ao redor do mundo.

Brasil e as BDs
O brasileiro consome as Bandas desenhadas não apenas pelo ineditismo da linguagem do material, mas pela qualidade e variedade temática.
Aproximadamente 5 mil títulos são lançados por ano no mercado franco-belga, e 60% correspondem à produção inédita e original. É claro que a porcentagem deste numero traduzida para o Brasil é insignificante, porém a relevância destas obras tem crescido a cada década.

O problema para que este material seja consumido com mais força no Brasil é o preço. Esse material chega ao Brasil com acabamento exemplar, o que aumentar seu custo, e dificulta a competitividade com as HQs nacionais, americanas e asiáticas, que pensam no consumo imediato, e não no colecionismo. Os leitores das Bandas Desenhadas costumam comprar e colecionar os álbuns, prezando pela qualidade, mesmo que paguem caro por isso.
Ainda assim, é um subgênero que vale a pena ser mais conhecido pela forma singular que abordar temas históricos, sua linguagem única, a beleza dos traços e do trabalho feito nas edições.
Fontes:
RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos – Coleção Linguagem & Ensino. São Paulo: 1 Ed. Contexto, 2009.
GARCIA, Arthur. Aprenda a desenhar Linha Clara. 1 ed. São Paulo : Criativo, 2011. HERGÉ, Georges. Les aventures de Tintin – Au Pays des Soviets. Paris: Casterman, 2006.
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